Eu
gosto é do abraço sincero. Quando todos os músculos do outro corpo se
empenham em dizer “obrigado”. Há poucos que conseguem abraçar dessa
maneira – a maioria tem medo de se expor, de desabrigar o próprio
espírito para acolher outro.
Eu
gosto de abraços sinceros. Assim, no plural. Um longo abraço pode dizer
tantas coisas que vale por uma dezena de abraços. Já percebi que apesar
de usarmos os braços é o peito aberto e quente que transmite e absorve
os sentimentos.
Eu
gosto, particularmente, dos abraços que dizem “saudade de você”, que
dizem “queria que você ficasse um pouco mais”, e as palmas das mãos se
abrem, os dedos comprimem com força contra as costas, em uma tentativa
desesperada de dizer palavras que ainda não foram escritas. Falta
semântica que explique o que um abraço sincero pode fazer ao final de um
dia estafante. Porém, como as mais variadas expressões humanas, como o
amor, o sexo e a arte, é preciso dois. O abraço só deixa de ser mera
formalidade cotidiana quando ambos se permitem dizer o que sentem por
dentro, o que mais ninguém tem conhecimento.
Quando
o meu abraço é de fato sincero, eu fecho os olhos. É involuntário.
Acredito que neste momento as almas, se ambas estão receptivas, se
conectam de uma forma que a ciência não pode explicar. É mais profundo
do que seguir o sistema endócrino do corpo humano. É tão íntimo quanto o
beijo, e é por isso que beijamos de olhos fechados: para saborear da
melhor maneira possível a entrega e a conquista, sem interrupções
externas.
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